Um estudo financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, em parceria com o Instituto para os Comportamentos Aditivos e as Dependências, revelou que o consumo descontrolado de conteúdos digitais, internet e redes sociais está contribuindo para um estado generalizado de alienação social. O projecto de investigação, intitulado Scroll, Logo Existo, destaca o desenvolvimento de um padrão de comportamento onde as relações online se tornam a zona de conforto, principalmente para jovens e crianças.
De acordo com informações avançadas hoje, 23 Janeiro de 2024, pela MadreMedia / Lusa, o estudo, inquiriu 1.704, indivíduos de 16 anos, entre Setembro de 2022 e Outubro de 2023 e aponta para uma necessidade crescente de acompanhar constantemente a vida digital, resultando em momentos de prazer e perda de noção do tempo de utilização.
O coordenador do projecto, Joaquim Fialho, citado pela MadreMedia / Lusa, ressalta que o estudo não sinaliza um alarme geral, mas destaca características transversais a todas as idades e níveis de escolaridade. Entre as conclusões do estudo, destacam-se a irritabilidade causada pela ausência ou redução do tempo de utilização dos ecrãs, além do uso dos dispositivos como uma forma de fuga para aliviar sentimentos de culpa, ansiedade ou depressão.
O estudo identifica também fenómenos como a monofobia, a síndrome do toque fantasma e o transtorno de dependência de Internet, este último associado à compulsão por estar constantemente online, especialmente em redes sociais. A ausência de redes sociais, denominada “depressão Facebook”, gera sentimentos de frustração e ansiedade, especialmente entre os mais jovens.
A síndrome do toque fantasma é a sensação ilusória de sentir uma vibração no bolso ou na área onde a pessoa costuma carregar seu dispositivo móvel, como o smartphone. Mesmo quando o telefone não está vibrando ou recebendo notificações, a pessoa pode experimentar essa sensação, levando-a a verificar o telefone, apenas para descobrir que não havia nenhuma notificação real. Esse fenómeno está associado ao condicionamento do cérebro devido ao uso frequente de dispositivos móveis.
Já o transtorno de dependência de Internet é caracterizado pela necessidade compulsiva e excessiva de ficar online, interferindo significativamente na vida diária e nas actividades normais. Isso inclui o uso excessivo de redes sociais, jogos online, streaming de vídeos, entre outros. Pessoas com esse transtorno podem experimentar dificuldades em controlar o tempo gasto online, negligenciando responsabilidades, relacionamentos e interesses fora do ambiente digital.
O transtorno de dependência de Internet pode ter impactos negativos na saúde mental, emocional e física, exigindo intervenção e tratamento adequados.
Além disso, os pesquisadores observaram a presença de hipocondria digital entre os entrevistados que é um comportamento de buscar constantemente informações médicas na internet, muitas vezes de forma obsessiva e ansiosa, sem a devida orientação profissional. Indivíduos que sofrem de hipocondria digital tendem a pesquisar sintomas, condições de saúde e possíveis diagnósticos e tratamento online, muitas vezes interpretando informações de maneira negativa e exacerbando preocupações com a saúde.
Esse comportamento pode levar a um ciclo prejudicial de ansiedade, onde a pessoa fica constantemente preocupada com a possibilidade de ter doenças graves, mesmo que não haja evidências clínicas concretas para apoiar essas preocupações. Com base nos resultados apresentados, os pesquisadores recomendam intervenções, principalmente em contextos escolares, para capacitar as pessoas a fazerem um uso mais saudável das tecnologias digitais, bem como desta o papel dos pais e encarregados de educação no controlo deste fenómeno.
Joaquim Fialho destaca a importância da literacia digital em vez da proibição, afirmando que capacitar as pessoas para uma utilização saudável é crucial diante do acesso generalizado aos ecossistemas digitais
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